terça-feira, 19 de junho de 2012

Esperar - Parte 3


Mais uma vez estou chorando ao te contar esses fatos. É sempre ouvindo uma música aqui, outra ali ou talvez aquele CD que você tenha deixado de lado há muito tempo. Fingimos que crescemos. Fingimos que somos inteiros o tempo todo e falsificamos muitos sorrisos ao ponto deles soarem naturais. Eu não gosto deles, mas é necessário. Um fato: A realidade é insuportável. A partir daqui tudo é muito confuso. Até pra mim. Pode ser que eu tenha apagado por vontade própria, para não sofrer. E os avisos chagavam... Lentamente, mas chegavam.
Foi no dia 18 de maio. Eu estava chegando da escola quando vi toda a família da minha mãe em nossa sala de estar. Já era independente o suficiente para ir e voltar do colégio sozinho, o qual não era muito longe. Já estava no final da 8º série. Quando apareci na porta do apartamento que se mantém aberta, todos repararam minha presença. A tristeza que sai por aquela porta formava um rastro negro pelo corredor. Minha mãe era a que mais chorava e quando me avistou derramou-se mais ainda. Eu não sabia o que estava acontecendo. Talvez não quisesse saber. Fato é que pouco depois ouvi aquelas palavras que já havia participado da minha infância. Mais alguém morreu. E foi alguém mais importante do que Amélia. 
Minha mãe não reconhecia que eu crescera demais de um tempo para o outro e contou-me em meio a lágrimas que meu pai havia falecido e agora estava em um lugar melhor. Nunca vi minha mãe chorar tanto como naquele dia. De uma hora para outra, enquanto trabalhava, disse aos colegas que estava com sono e abaixou a cabeça não levantando mais. Carlos, meu pai, tinha 52 anos quando ocorreu tal fatalidade. Simplesmente não disse nada. Não expressei nada. Apenas segui para o quarto e lá fiquei até que todos fossem embora, chorando baixinho quase que imperceptível.
Não sei ao certo, mas considero que foi a partir daí que as coisas começaram a desandar. Num piscar de olhos, os dias se passaram até que eu estivesse pronto para voltar para o colégio. E então eu voltei. O clima gélido do lugar me incomodava mais do que a falta do meu pai. Todos aqueles olhares de preocupação me enfureciam. O máximo que fazia era abaixar a cabeça e seguir sozinho, até encontrar Jonny. E foi a amizade dele que me ajudou muito. Depois desses fatos, Marcos se afastou consideravelmente de mim e de Jonny, pois achava que não seria legal para sua fama na escola estar ali conosco. Isso contribuirá demais quando ele chegasse ao Ensino Médio.
Posso dizer que a ausência dele perto de mim me machucou consideravelmente, mas foi melhor assim.