segunda-feira, 11 de junho de 2012

Esperar. Parte 1

    Daqui algum tempo tenho certeza que tudo será diferente. Meu nome é Arthur e hoje peço permissão para contar um pouco da minha história.
    Bem, eu queria começar pelo meu melhor amigo recém comprado. Apresento Jubinha, uma hamister branca que minha mãe comprou para substituir o Joca que era igual a ela, exceto pelo fato dele ser preto. Lembro-me de não ter dito nada em relação a isso, pois reconhecia os esforços dos meus pais para me agradar naquele dia. Minha mãe era reitora de medicina de um hospital muito importante da cidade e confesso-lhe que não sabia o que isso significava. Com certeza era algo muito importante pelo nível de vida que levávamos.
    Desculpe, esqueci de dizer que nesse dia era meu aniversário de 13 anos. Não foi um dia muito feliz porque odiava festas. Alias, ainda odeio. Meus pais chamaram quase que o colégio inteiro. Eram apenas colegas que pouco falava e outros que nem sabiam quem eram. Pouco dei importância para isso, pois a única pessoa que fiz questão de chamar foi minha professora de língua portuguesa. Era uma moça tão jovem e eu gostava muito dela. Alguns anos mais tarde ela iria me ajudar muito e fico triste de lembrar que recentemente compareci a uma data trágica. Em minha mente permanece a imagem dela do 6º ano. Amélia, tinha 21 quando deu aula para minha classe. 
    A festa durou mais tempo do que eu poderia imaginar e fiquei perto de Amélia o quanto pude. Não tinha amigos e ela era a maior referência que possuía. Ingenuidade era tudo o que me pertencia naquela época. Digo assim porque nunca tive fortes referências paternais em casa. Já era noite quando os convidados foram aos pucos indo embora. Uma das últimas pessoas a saírem foi Amélia. Ela se despediu de meus pais e depois de mim. Deu-me um dos melhores abraços que já havia recebido. 
- Até amanhã, Athur. Durma bem meu querido e muitas felicidades. 
- Obrigado, professora Amélia. - Dei um sorriso de tristeza por ela estar indo embora. Percebam como eu era "formal".
    Com toda formalidade de adultos que lhe cabiam, meus pais de despediram dela e a acompanhamos até o elevador. Na manhã seguinte, foi para o colégio. Quando cheguei, toda minha classe havia sido conduzida para o anfiteatro, onde cabia bem umas 3 salas inteiras. Todos mantinham uma aparência triste e ninguém se deu a me explicar de imediato. Foi então que, quando todos estavam sentados lá, surgiu a diretora e disse as seguintes palavras que aqui consigo reproduzi-las exatamente como foi pronunciadas naquela manhã fria de inverno: "Caros alunos, informo a todos que nos próximos 3 dias há escola estará fechada em respeito a morte da nossa querida professora Amélia." Falsa, é a única coisa que tenho a dizer daquela diretora. Ninguém naquele maldito colégio gostava dela, pois era Amélia que a enfrentava para defender os direitos dos alunos. Os pais foram chamados e a situação lhe foram explicadas. Eu estava do lado de fora da sala da diretora e pude ouvir claramente a conversa dela com meus pais. 
    Sua morte se deu depois de ser assaltada algumas horas depois de sair da minha festa. Apesar de ser professora de um colégio particular não tinha um carro. Ainda estava concluindo sua faculdade. Iria voltar para sua casa de ônibus e foi nesse momento que a pegaram. Foi a susto que a levou. Apesar de jovem seu coração não conseguiu resistir e depois de horas no hospital faleceu por parada cardio-respiratória. Jeito idiota de se morrer quando se é jovem. Isso me fez sentir muito culpado na época. Talvez se ela nunca tivesse aparecido em minha casa estaria viva.
    Minha história daqui pra frente não parecerá muito feliz. Amélia  foi a primeira de sucessivos acontecimentos. Quando se é criança, essa poderia ter sido a minha maior perda depois do Joca. E não foi, não estava nem perto de ser.