domingo, 6 de janeiro de 2013

Adeus, Lenin.

      Era uma manhã chuvosa quando saí para trabalhar quando me deparei com ele. Estava todo encharcado, triste e acoado na beirada da porta onde escorria menos água. Não aguentei e o peguei no colo, colocando dentro o meu paletó e voltando para o meu apartamento. Creio que estava com muito frio e quase morrendo, pois estávamos no inverno.
   
  Abrindo a porta rapidamente corri pelo meu pequeno apartamento e abri o chuveiro quente enquanto procurava - talvez - uma toalha para secá-lo. Dei- lhe um bom banho e o sequei. Me agradeceu com miúdos olhos de gratidão. Seguiu-se assim uma amizade bem sincera, se o problema não fosse eu.

      Nunca entendi quais eram os verdadeiros problemas quando me atrevi a trazer aquele pobre ser para o meu circulo fechado de sentimentos, como em uma determinada manhã em que desatinei a imaginar como seria o mundo com milhares de camélias no jardim. Esqueci que eu não tenho um jardim.

     Fato é que  não me lembro bem do que aconteceu. e talvez não importe muito. Algumas lembranças merecem - e devem - ser esquecidas. Sei que fui eu. Não poderia ser ninguém além de mim para cometer tal atrocidade. Mas não quero contar os detalhes. Peço permissão para pular toda a tragédia, pois ela tem muitos sentidos diferentes.

      Preciso terminar por aqui. As enfermeiras dizem que sou paciente terminal, que ofereço risco aos outros internados... "Vou tomar meu último drink."

      E Ele ainda está lá.

      Por favor, Doutor. Deixe essa minha carta lá perto da pia da cozinha. Peça desculpas a ele e diga que não me arrependo, mas sinto saudades. Adeus.
      

sábado, 5 de janeiro de 2013

E por isso, não aprendi a voar.

Não há certezas
E os versos estão incompletos.
É como se não houvesse nada,
Mas preciso falar...
Sobre você. Sobre essa saudade.
Sobre esse medo do Tempo.

A estrada é longa, e tu apenas a enxerga de longe.