E ele estava ali, deitado no chão esperando suas aulas
começarem. Logo a sua frente estava à escada de mármore branco, com corrimão de
madeira e grades de ferro, com uma aparência feia - mas na tua visão algo
maravilhoso - e descuidada. Aquele elevador antigo estampava a idade do local. Tudo parecia possuir um gosto acolhedor e
simples. Lia aquele livro que havia deixado de lado fazia um tempo, com seus
fones e música alta para ignorar quem passasse por lá. Estava no terceiro andar
daquele prédio magnífico.
Gostava de estar ali. A paz que sentia era única e a
coisa que mais gostava era as escadas.
Até então, o corredor estava lotado. Podia sentir a presença
de várias e várias pessoas conversando ao seu redor, inclusive aquele garoto do
qual não tirava os olhos. Tua presença o encantava. Até demais. Via vários pés
indo e vindo e algumas risadas que conseguiam ultrapassar o volume do celular. Era
a sua forma de fugir do mundo e não ser incomodado, pelo menos por um tempo.
Fechou o livro e percebeu que continuava acompanhado no
corredor. Não entendia o porquê. Levantou-se e caminho até a escada. Que magnífica
era aquela visão que tinha do térreo. Sempre imaginou como seria se jogar de
lá. Sempre ficava dias e dias debruçado
olhando para baixo. Olhou para os dois lados e fechando os olhos, subiu na
beirada. Ninguém nem ao menos percebera o que queria fazer. Conseguiu ficar
totalmente em pé e fechando os braços se jogou.
Foi a melhor sensação que poderia ter sentido na tua vida,
fazendo dele o ser mais completo naquele instante que se passava. De certa
forma a queda foi um tanto quanto lenta, para que pelo menos o prazer
aumentasse. Seu corpo nem ao menos conseguiu tocar o chão. Foi como se
flutuasse com seus olhos fixos naquele chão quadriculado.
Nesse momento, sentiu medo do próprio suicídio. Sentiu
medo do que a pessoas iriam dizer ao vê-lo jogado no chão e do que fariam após
isso. Sentiu um aperto no peito ao pensar nas pessoas que ama, mesmo que alguma
nem ao menos dê atenção a esse fato. Sentiu-se como o traidor de si mesmo ao
fazer aquilo. Quis voltar ao que era antes e fechou os olhos mais uma vez.
Passaram-se alguns segundos sem sentir absolutamente nada.
Sem dor, sem amor, sem vida. Já era tarde de mais.