sexta-feira, 29 de junho de 2012

"Vai seguir os teus sonhos, mesmo que tenha que sair de São Paulo." - disse ele.

     Às vezes eu acho que não sou capaz de entender porque a terra gira nem porque estamos aqui. Eu já fiz milhares e milhares de planos que não fazem o menor sentido na visão de algumas pessoas, mas que na minha brilhava como raios de sol. Eu tenho medo do futuro. Tenho medo porque não consigo colocá-lo sob o meu controle, pois perdi a capacidade de organizá-lo.
     Ele me disse que não temos nada aqui. A não ser que seja para aproveitar os museus. O mundo é muito maior lá fora. Naquele momento em que estavámos no corredor batendo um papo de amigos, abaixei a cabeça e percebi que ele tem razão. Razão é outra palavra que me assusta quando cruzo com ela. Enfim, agora não sei muito bem o que fazer. Não tenho mais a mesma facilidade de expressar tudo o que era necessário em palavras e o peito vai ficando carregado. Não sei mais o que há lá na frente para se fazer. Não sei de mais nada.



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Esperar - Parte 4

"E eu, numa rasteira do tempo, nunca pensei que fosse um dia chegar a esse ponto. Ultimamente tenho andando estranho, mas isso é mais uma outra parte da minha vida que não interessa contar-lhes agora."

Sou uma falha do tempo,

    Hoje, desligarei meu celular para que ninguém me encontre. As responsabilidades são sufocantes e impassíveis dependendo do modo em que elas chegam. Estou fugindo para não cruzar comigo mesmo pela rua ou com quem quer que seja. Não preciso de espaço para respirar. Não reconheço mais aqueles olhares. Sou uma falha do tempo, que só existe naquele mesmo lugar. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Casulo de vidro.

   E há tantas coisas que penso em dizer...

terça-feira, 19 de junho de 2012

Esperar - Parte 3


Mais uma vez estou chorando ao te contar esses fatos. É sempre ouvindo uma música aqui, outra ali ou talvez aquele CD que você tenha deixado de lado há muito tempo. Fingimos que crescemos. Fingimos que somos inteiros o tempo todo e falsificamos muitos sorrisos ao ponto deles soarem naturais. Eu não gosto deles, mas é necessário. Um fato: A realidade é insuportável. A partir daqui tudo é muito confuso. Até pra mim. Pode ser que eu tenha apagado por vontade própria, para não sofrer. E os avisos chagavam... Lentamente, mas chegavam.
Foi no dia 18 de maio. Eu estava chegando da escola quando vi toda a família da minha mãe em nossa sala de estar. Já era independente o suficiente para ir e voltar do colégio sozinho, o qual não era muito longe. Já estava no final da 8º série. Quando apareci na porta do apartamento que se mantém aberta, todos repararam minha presença. A tristeza que sai por aquela porta formava um rastro negro pelo corredor. Minha mãe era a que mais chorava e quando me avistou derramou-se mais ainda. Eu não sabia o que estava acontecendo. Talvez não quisesse saber. Fato é que pouco depois ouvi aquelas palavras que já havia participado da minha infância. Mais alguém morreu. E foi alguém mais importante do que Amélia. 
Minha mãe não reconhecia que eu crescera demais de um tempo para o outro e contou-me em meio a lágrimas que meu pai havia falecido e agora estava em um lugar melhor. Nunca vi minha mãe chorar tanto como naquele dia. De uma hora para outra, enquanto trabalhava, disse aos colegas que estava com sono e abaixou a cabeça não levantando mais. Carlos, meu pai, tinha 52 anos quando ocorreu tal fatalidade. Simplesmente não disse nada. Não expressei nada. Apenas segui para o quarto e lá fiquei até que todos fossem embora, chorando baixinho quase que imperceptível.
Não sei ao certo, mas considero que foi a partir daí que as coisas começaram a desandar. Num piscar de olhos, os dias se passaram até que eu estivesse pronto para voltar para o colégio. E então eu voltei. O clima gélido do lugar me incomodava mais do que a falta do meu pai. Todos aqueles olhares de preocupação me enfureciam. O máximo que fazia era abaixar a cabeça e seguir sozinho, até encontrar Jonny. E foi a amizade dele que me ajudou muito. Depois desses fatos, Marcos se afastou consideravelmente de mim e de Jonny, pois achava que não seria legal para sua fama na escola estar ali conosco. Isso contribuirá demais quando ele chegasse ao Ensino Médio.
Posso dizer que a ausência dele perto de mim me machucou consideravelmente, mas foi melhor assim.  

sábado, 16 de junho de 2012

Esperar. Parte 2

    Depois de todos os tramites que se sucederam após a morte de Amélia, a vida seguia seu rumo da mesma forma que era antes. A única diferença era que eu estava sozinho, literalmente sozinho. Minha ligação com ela era muito forte e agora não tinha mais ninguém que eu conseguisse conversar. 
    Passaram-se alguns longos anos até eu chegar na 8ª série. Foi um terror pra eu ter que mudar de colégio. Sei que havia dito que não falava com ninguém e que isso era recíproco, mas sabe quando você se sente melhor com estranhos que já conhece do que com outros que você nunca viu? E outra, por que falar desse momento da minha vida? E então eu respondo para você: Foi quando eu conheci o amor da vida. Não foi da forma que os livros contam e é óbvio que não sabia quem ele seria. Eis mais um fato, não sabia que seria Ele. 
    Continuava no turno da manhã e como era colégio novo minha mãe foi me levar nos primeiros dias. Era sempre na hora da entrada. Eu o via sentado perto do chafariz sozinho. Chamava-me a atenção e apesar de ter 15 anos não definia aquilo como paixão. Formigava-me a barriga e nem ao menos compreendia o que meu coração queria me dizer. Ah seu eu tivesse ido até lá, nem que fosse para dizer um oi. Não que isso importe, mas o nome dele era Marcos. 
    Era tudo mais novo do que deveria ser. E isso me incomodava demais e ainda sentia a morte de Amélia em minhas costas. Peço permissão para pular algumas partes das minhas vivências. Poderia citar agora que Marcos se tornará alguém muito mais do que importante alguns meses mais tarde. Mas ainda não é o momento de falar disso, pois fiz algumas amizades nessa época. A mais importante entre todas as outras foi a do Jonny. Ele era o meu colega de sala. Pessoa muito inteligente, mas não fazia muito esforço para aprender. Por favor, quando digo que a amizade dele foi a mais importante não significa que a dele foi à única e pra ser sincero, não lembro como ficamos tão amigos. 
    O dia mais incrível da minha vida foi depois da escola, quando combinamos de sair juntos. Estavam eu, Jonny, Cassie e Marcos. Indiretamente aceitei sair com esse pessoal apenas para saber mais sobre o Marcos. Nunca o via falar com muitas pessoas e o enigma que sentia emanar dele me intrigava demais. Foi numa tarde de quinta-feira e estávamos numa biblioteca ali perto do colégio. Jonny me lançou um olhar de quem iria desaparecer por um tempo. Logo entendi e dei um toque em Marcos. O mais engraçado - e que fiquei sabendo só um tempo depois - é que Jonny havia chamado Marcos, pois percebera o meu interesse nele. Fomos andando pelas prateleiras e eu nem ao menos sabia o que perguntar para ele. Sou totalmente sem assunto quando a questão é ficar com alguém. Era o corredor dos livros de biologia. O mais isolado de todos ali dentro. Numa pequena fração de segundos ele estava ao meu lado. Na outra passava a mão pela minha cintura encostando-me num cantinho. Marcos era mais velho, mais alto e muito mais gostoso do que eu. Senti mais do que um prazer emocional. Senti um prazer sexual quando sua boca passou pelo meu pescoço. Passamos um tempo maravilhoso ali e aquela era a minha primeira experiência. 
    Depois de um longo tempo, Marcos não fez nada e não disse nada. Apenas segurou minha mão e fomos para a portaria esperar Jonny e Cassie. Ele tinha o sorriso mais lindo e um puro olhar penetrante e o silêncio que se perdurou por mais algum tempo foi a coisa mais linda pra mim. O olhar de surpresa de Jonny não foi tão impressionante como acreditava que seria. 
   Posso adivinhar o que você está pensando? Não. Não posso, pois irá interpretar de uma forma diferente do que deveria. Peço desculpas por omitir alguns detalhes que você me agradeceria se eu contasse. Ficaria mais fácil para entender, mas creio que já teve uma pessoa em sua vida que fez sentir o mesmo que Marcos fez comigo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Esperar. Parte 1

    Daqui algum tempo tenho certeza que tudo será diferente. Meu nome é Arthur e hoje peço permissão para contar um pouco da minha história.
    Bem, eu queria começar pelo meu melhor amigo recém comprado. Apresento Jubinha, uma hamister branca que minha mãe comprou para substituir o Joca que era igual a ela, exceto pelo fato dele ser preto. Lembro-me de não ter dito nada em relação a isso, pois reconhecia os esforços dos meus pais para me agradar naquele dia. Minha mãe era reitora de medicina de um hospital muito importante da cidade e confesso-lhe que não sabia o que isso significava. Com certeza era algo muito importante pelo nível de vida que levávamos.
    Desculpe, esqueci de dizer que nesse dia era meu aniversário de 13 anos. Não foi um dia muito feliz porque odiava festas. Alias, ainda odeio. Meus pais chamaram quase que o colégio inteiro. Eram apenas colegas que pouco falava e outros que nem sabiam quem eram. Pouco dei importância para isso, pois a única pessoa que fiz questão de chamar foi minha professora de língua portuguesa. Era uma moça tão jovem e eu gostava muito dela. Alguns anos mais tarde ela iria me ajudar muito e fico triste de lembrar que recentemente compareci a uma data trágica. Em minha mente permanece a imagem dela do 6º ano. Amélia, tinha 21 quando deu aula para minha classe. 
    A festa durou mais tempo do que eu poderia imaginar e fiquei perto de Amélia o quanto pude. Não tinha amigos e ela era a maior referência que possuía. Ingenuidade era tudo o que me pertencia naquela época. Digo assim porque nunca tive fortes referências paternais em casa. Já era noite quando os convidados foram aos pucos indo embora. Uma das últimas pessoas a saírem foi Amélia. Ela se despediu de meus pais e depois de mim. Deu-me um dos melhores abraços que já havia recebido. 
- Até amanhã, Athur. Durma bem meu querido e muitas felicidades. 
- Obrigado, professora Amélia. - Dei um sorriso de tristeza por ela estar indo embora. Percebam como eu era "formal".
    Com toda formalidade de adultos que lhe cabiam, meus pais de despediram dela e a acompanhamos até o elevador. Na manhã seguinte, foi para o colégio. Quando cheguei, toda minha classe havia sido conduzida para o anfiteatro, onde cabia bem umas 3 salas inteiras. Todos mantinham uma aparência triste e ninguém se deu a me explicar de imediato. Foi então que, quando todos estavam sentados lá, surgiu a diretora e disse as seguintes palavras que aqui consigo reproduzi-las exatamente como foi pronunciadas naquela manhã fria de inverno: "Caros alunos, informo a todos que nos próximos 3 dias há escola estará fechada em respeito a morte da nossa querida professora Amélia." Falsa, é a única coisa que tenho a dizer daquela diretora. Ninguém naquele maldito colégio gostava dela, pois era Amélia que a enfrentava para defender os direitos dos alunos. Os pais foram chamados e a situação lhe foram explicadas. Eu estava do lado de fora da sala da diretora e pude ouvir claramente a conversa dela com meus pais. 
    Sua morte se deu depois de ser assaltada algumas horas depois de sair da minha festa. Apesar de ser professora de um colégio particular não tinha um carro. Ainda estava concluindo sua faculdade. Iria voltar para sua casa de ônibus e foi nesse momento que a pegaram. Foi a susto que a levou. Apesar de jovem seu coração não conseguiu resistir e depois de horas no hospital faleceu por parada cardio-respiratória. Jeito idiota de se morrer quando se é jovem. Isso me fez sentir muito culpado na época. Talvez se ela nunca tivesse aparecido em minha casa estaria viva.
    Minha história daqui pra frente não parecerá muito feliz. Amélia  foi a primeira de sucessivos acontecimentos. Quando se é criança, essa poderia ter sido a minha maior perda depois do Joca. E não foi, não estava nem perto de ser.

sábado, 2 de junho de 2012

Ah, se tu soubesse...

Onde estão todas aquelas cartas que não foram enviadas,
Onde estão todas aquelas palavras que não foram ditas,
Onde eu estou...