sábado, 16 de junho de 2012

Esperar. Parte 2

    Depois de todos os tramites que se sucederam após a morte de Amélia, a vida seguia seu rumo da mesma forma que era antes. A única diferença era que eu estava sozinho, literalmente sozinho. Minha ligação com ela era muito forte e agora não tinha mais ninguém que eu conseguisse conversar. 
    Passaram-se alguns longos anos até eu chegar na 8ª série. Foi um terror pra eu ter que mudar de colégio. Sei que havia dito que não falava com ninguém e que isso era recíproco, mas sabe quando você se sente melhor com estranhos que já conhece do que com outros que você nunca viu? E outra, por que falar desse momento da minha vida? E então eu respondo para você: Foi quando eu conheci o amor da vida. Não foi da forma que os livros contam e é óbvio que não sabia quem ele seria. Eis mais um fato, não sabia que seria Ele. 
    Continuava no turno da manhã e como era colégio novo minha mãe foi me levar nos primeiros dias. Era sempre na hora da entrada. Eu o via sentado perto do chafariz sozinho. Chamava-me a atenção e apesar de ter 15 anos não definia aquilo como paixão. Formigava-me a barriga e nem ao menos compreendia o que meu coração queria me dizer. Ah seu eu tivesse ido até lá, nem que fosse para dizer um oi. Não que isso importe, mas o nome dele era Marcos. 
    Era tudo mais novo do que deveria ser. E isso me incomodava demais e ainda sentia a morte de Amélia em minhas costas. Peço permissão para pular algumas partes das minhas vivências. Poderia citar agora que Marcos se tornará alguém muito mais do que importante alguns meses mais tarde. Mas ainda não é o momento de falar disso, pois fiz algumas amizades nessa época. A mais importante entre todas as outras foi a do Jonny. Ele era o meu colega de sala. Pessoa muito inteligente, mas não fazia muito esforço para aprender. Por favor, quando digo que a amizade dele foi a mais importante não significa que a dele foi à única e pra ser sincero, não lembro como ficamos tão amigos. 
    O dia mais incrível da minha vida foi depois da escola, quando combinamos de sair juntos. Estavam eu, Jonny, Cassie e Marcos. Indiretamente aceitei sair com esse pessoal apenas para saber mais sobre o Marcos. Nunca o via falar com muitas pessoas e o enigma que sentia emanar dele me intrigava demais. Foi numa tarde de quinta-feira e estávamos numa biblioteca ali perto do colégio. Jonny me lançou um olhar de quem iria desaparecer por um tempo. Logo entendi e dei um toque em Marcos. O mais engraçado - e que fiquei sabendo só um tempo depois - é que Jonny havia chamado Marcos, pois percebera o meu interesse nele. Fomos andando pelas prateleiras e eu nem ao menos sabia o que perguntar para ele. Sou totalmente sem assunto quando a questão é ficar com alguém. Era o corredor dos livros de biologia. O mais isolado de todos ali dentro. Numa pequena fração de segundos ele estava ao meu lado. Na outra passava a mão pela minha cintura encostando-me num cantinho. Marcos era mais velho, mais alto e muito mais gostoso do que eu. Senti mais do que um prazer emocional. Senti um prazer sexual quando sua boca passou pelo meu pescoço. Passamos um tempo maravilhoso ali e aquela era a minha primeira experiência. 
    Depois de um longo tempo, Marcos não fez nada e não disse nada. Apenas segurou minha mão e fomos para a portaria esperar Jonny e Cassie. Ele tinha o sorriso mais lindo e um puro olhar penetrante e o silêncio que se perdurou por mais algum tempo foi a coisa mais linda pra mim. O olhar de surpresa de Jonny não foi tão impressionante como acreditava que seria. 
   Posso adivinhar o que você está pensando? Não. Não posso, pois irá interpretar de uma forma diferente do que deveria. Peço desculpas por omitir alguns detalhes que você me agradeceria se eu contasse. Ficaria mais fácil para entender, mas creio que já teve uma pessoa em sua vida que fez sentir o mesmo que Marcos fez comigo.